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MUROS
Será que nossa próxima geração ao caminhar pelas Avenidas da Cidade poderá ter a visão de suas Praças, dos jardins que abraçam alguns prédios públicos, dos canteiros que embelezam as áreas externas das casas? Esta é uma pergunta cuja resposta tem me preocupado; como serão as nossas ruas daqui a trinta anos?
Façamos um retrocesso no tempo e lembremo-nos de como eram esses lugares na década de 70. Quando iniciei minhas atividades aqui em Teresina, em 1968, contava sempre com a mãe Natureza para valorizar meus projetos, pois os jardins, além de amenizarem nosso clima, são sempre uma festa para os olhos. A partir dos anos 80, o "progresso" da cidade trouxe de contrapeso o aumento da malandragem, da gatunice e as pessoas desandaram a levantar barricadas urbanas chamadas muros, para se defenderem contra o que, em pouco tempo, passou a se chamar violência. Será que estas defesas realmente defendem? Nunca acreditei nelas, pois o ladrão ao pular uma parede de dois metros, coisa que qualquer um faz com a maior facilidade, cai num terreno à prova de olhares externos, onde se sente mais seguro, pois sabe que naquele espaço protegido por muros, ele só tem um inimigo pela frente que é o proprietário; então, se houver refém no assalto, a proteção para o assaltante não poderia ser melhor!
Infelizmente o modismo pegou como pegaram também outras modas, tais como o plantio desvairado da Palmeira Imperial e agora, mais recente, surge o Ficus que em breve será o responsável pelo fim de nossas calçadas.
Mas voltando ao assunto das barreiras visuais, como se já não bastassem as ruas dos bairros residenciais terem se transformado em verdadeiros corredores murados, sem nenhum atrativo, desumanizando a comunidade, vem agora a Cepisa tentar estender o mesmo procedimento ao setor público. No projeto original de sua Sede, havia uma mureta com um metro de altura cercando o terreno, deixando visível toda a área verde em volta do prédio; posteriormente resolveram colocar uma grade sobre a mureta, solução que dá uma proteção razoável sem criar barreira visual, mas agora, pasmem os senhores , resolveram dar início à construção da famigerada barricada! Provavelmente a moda no novo setor logo terá seguidores e dentro em breve estaremos assistindo a mesma solução sendo adotada para "proteger" a Assembléia Legislativa, a Sede da Agespisa, o Centro de Convenções, o Palácio da Justiça e outros mais. Tentem visualizar o Palácio de Karnak com um muro substituindo as grades que circundam seus jardins!
Quando essa segunda etapa de muramento for concluída, não pensem os caros leitores que os obcecados construtores de paredes se darão por satisfeitos: partirão imediatamente para a terceira fase do plano de "defesa" e murarão o que resta, nossas Praças. Talvez até aproveitem as grades já existentes para servirem de estrutura interna de suas paredes.
Com tantas inovações permitidas pela Prefeitura, caberá então a esta encontrar uma nova definição para a palavra Cidade, e a título de colaboração deixo minha sugestão: Cidade é o labirinto formado por corredores murados com barreiras que variam entre dois e três metros de altura, por onde circulam carros blindados, assaltantes e assaltados.
Antonio Luiz
Teresina, 31 / 3 / 2000
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